Não sei nem de onde arrumei coragem para vir falar com você agora. Sei que passei muito tempo longe, que muitas vezes até virei à cara para você. Disse que nunca precisei de você e, em outras ocasiões, até duvidei da sua capacidade e fiz piada quando vinham me falar sobre você. Sei que mesmo praguejando seu nome, você me acompanhou. Mesmo de longe, mesmo sem eu deixar você entrar na minha casa ou no meu coração, você sempre esteve de olho em mim. Se não estivesse comigo hoje, nem de pé estaria.
Não sou o primeiro, nem vou ser o último a vir ter essa conversa e a lembrar de você só quando chegar bem no fundo do poço, que eu mesmo cavei com orgulho, ambição e arrogância. Agora estou bem aqui no fundo. Por muito tempo fiquei olhando para os lados e lembrando aquele meu velho discurso no qual dizia que nunca precisei de você. Tentei usá-lo para subir... Só consegui mais quedas e é ai que engoli meu orgulho e lembrei-me de tudo que um dia ouvi sobre você, de tudo que você já tinha feito por mim. Como um cão que apronta, coloquei o rabo entre as pernas e resolvi te chamar.
Só quero lhe pedir que, ao contrário do que fiz equivocadamente com você, não me esqueça. Ajude-me na subida e não desista de mim. Queria lhe dizer que meu coração está novamente aberto para você, que meu destino está em suas mãos... E vou entender que ainda tenho que sofrer as reações negativas das minhas ações. Se você estiver comigo, vou superá-las de cabeça erguida. Queria avisar que não freqüentarei sua casa - não por vergonha de você, mas por muitos errantes como eu, que fizeram de lá um comércio -, que levarei você e minha fé em todos os lugares. Gostaria de lhe prometer que, vencendo ou não, não voltarei a te esquecer, porque mesmo aqui no fundo do poço, só de conseguir pensar em você já me sinto um pouco mais reestruturado e com forças para esperar o que de bom ainda há por vir.
